Ignorância Humana: é triste!

Isto passou-se na última sexta. Tenho uma colega vinda dos países do leste que já cá está á algum tempo e apesar de ainda se notar no sotaque a sua origem, ela fala já bem a língua portuguesa.

Na sua hora de refeição, ela saiu do trabalho e foi ter com o pai até aos Restauradores para irem á loja do cidadão. Até aqui tudo normal. Chegou lá e como estava muita gente e não conseguia encontrar o pai, tentou ligar-lhe. Mas nesse momento, por azar, lembrou-se que tinha deixado o telemóvel no trabalho a carregar.

O que é que as pessoas fazem nestas situações num pais civilizado? O mesmo que ela. Ela foi a um café e pediu para usar o telefone, pagando a chamada com a nota de 5 euros que tinha consigo. Não se dirigiu á cabine telefónica porque ainda não há cabines que aceitem notas, como é conhecimento de todos.. ou quase todos.

No café não a deixaram fazer a chamada. Ela pediu e implorou mesmo, explicando que precisava de ligar para encontrar o seu pai. As respostas do dono do café foram “vá a uma cabine telefónica” , ao que ela respondeu que só tinha a dita nota de 5 euros. E o homem ainda teve a lata de lhe dizer para ir a uma associação de ajuda aos emigrantes do leste para procurar o seu pai, loja essa que ficava uns 300 metros acima noutra rua. Desesperada, extremamente ofendida e em estado de choque, ela explicou novamente a situação e pediu novamente para a deixarem fazer a chamada. Recusaram e mais nada.

Conseguiu depois que uma senhora desconfiada e á revalia, a deixasse mandar um toque para o telemóvel do pai para ele lhe ligar e poder falar com ele. A senhora dizia que não tinha saldo, ao que ela explicou que era só um toque, sem qualquer custo para o saldo do seu cartão.. e veio depois a confirmar, quando a senhora fez uma consulta ao saldo antes de a deixar dar o toque.. que a mulher tinha saldo. Para pronto.. é do seu livre direito não querer gastar o saldo com uma estranha que não conhece. Ao menos deixou-a dar o toque e falar com o pai.

Agora pergunto eu.. em que raio de pais vivemos nós? Já disse isto antes e volto a dizer: sempre fomos um povo muito pouco cívico, mas ultimamente estamos a deixar de ser sequer civilizados. E notem que a minha colega tem uma aparência boa e visualmente, poderia passar por portuguesa. Imagino o que teem que passar aqueles que se destacam facilmente na multidão. É triste.

É triste também que um outro colega meu de cor tenha ouvido no outro dia no Almada Fórum o que ouviu. Ao entrar no shopping ouviu a palavra “arrastão” gritada por umas pessoas… adultos ou crianças.. não interessa! Até porque não é a primeira vez que presencia esse tipo de atitude para com ele e para com outros, e também ele tem um bom aspecto, um sorriso e uma postura que em nada lembra qualquer delinquente! O que interessa é o valor e o nojo que se manifesta nesta acção. Amo muito o meu pais, mas tenho muita vergonha das atitudes dos portugueses.. não são todos, mas já são alguns.